quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A sério? Outra vez arroz?


Em todas as ruas por que caminhas, metros que apanhes ou autocarro que espera durante a noite há sempre um abraço ou um carinho a ser dado. Há quem se sinta incomodado como eu. Há até aqueles dias em que parece que o amor te passa ao lado. Nesses dias não ignores, observa, recorda-te. Afinal não é desse arroz que tu tanto gostas?

Por vezes associo todo esta inquietude com um prato de arroz. Há quem goste dele frito, há que frita um bom arroz de manteiga. Há quem leve anos a evitar que cole ao tacho e há sempre quem consiga escolher à primeira o número certo de copos de água a utilizar. Contudo, seja qual a sua forma de cozinhar todos o que o fazem o comem afinal é essa a refeição quente que preparam para esta noite.

Passam os dias naquele cidade que te acolhe e quanto sonhas por uma prato de arroz saído da panela quando chegas das aulas. O frio da rua, por aqui, ainda não é muito, mas também as árvores já adotaram a coleção de outono/inverno.
Despem-se as árvores e tu vestes-te ainda mais. Vestes-te de saudade, de sorrisos quando te lembras dos momentos quentes de verão. Que bom que era mais um prato de arroz. Ora na praia, ora ao pôr do sol, ou até quando a madrugada na tenda te começa a incomodar.
Já não te vestes de lágrimas porque os dias parecem correr. Parece que os dias de verão voltaram ou até que retornamos aquela semana tão eterna que decidiu mostrar como o tempo sabe ser fugaz. Agora é que corres? Agora que me habituaste aos repetidos pratos de arroz é que me recordas que também eu tenho a minha refeição quente?

Continuas a caminhar e já te sentes-te. Puro inferno que os teus olhos vêem. Outra vez os mesmo? Outra vez os dedos entrelaçados e o encosto de um beijo? Sabes quantas vezes te pedi que fosse eu? Pois bem, agora que me contestas eu ainda quero mais! Quero o meu prato de arroz assim que chegar a casa ou até mesmo naquelas caixas portáteis que podemos carregar no metro!

Sabes tempo vou contar-te um segredo. Quando me ocupas a mente e o corpo eu não me esqueço de ti. Mesmo quando corres ou passas cada segundo como se um minuto se tratasse eu sei que continuas regular e pontual. Nunca falhas um dia, nem mesmo quando te peço mais uma hora para sonhar.
Afinal o meu prato preferido é arroz e mesmo que esteja embalado em distintos pacotes eu sei que o consigo encontrar.

Simbólico em exagero ou compreendido por quem o sente, esta é a minha refeição preferida. Desta vez só eu vim, mas numa próxima oportunidade vou trazê-lo a meu lado. Assim, talvez seja a mente de outros a perguntar: a sério? Outra vez arroz?




sábado, 5 de novembro de 2016

Persistência da memória

Na tua rua há sempre aqueles dois que passeiam de braço dado. Um beijinho na bochecha, outro na teste e nada mais do que os dedos entrelaçados uns nos outros.
Há sempre aquelas duas personagens que não encontram os limites da expressão do amor e se abraçam como que num espaço íntimo ou de toque pessoal.
Há sempre os dois corações que faz anos que se sentam no mesmo banco. Sempre à mesma hora, sempre com o sol no mesmo espaço do céu, mesmo que com o tempo aquele lugar comece a ser ocupado por mais pequenos corações.

No teu bairro há sempre quem passeio sozinho, no silêncio de um fio conectado à orelha que quebra a monotonia do vento e das folhas de outono que começam a dançar dos ramos das árvores.
No teu bairro há sempre quem se junte aos poucos. Um grupo de amigos que se cruza num olá animado de saudade, mesmo que ainda no dia anterior tenham testado o limite de paciência daquele que os tentar ensinar a relação entre os metais e os não metais da tabela periódica.

Na tua cidade há sempre quem caminhe de olhos postos no chão. Naquele equipamento iluminado que tantas vezes faz um sorriso embaraçado surgir na agitação da calçada.
Na tua cidade há quem caminhe no sentido inverso. Pareces ser tu, muitas vezes, mas com o tempo aprendes que a corrente a nenhum lugar te leva, pelo contrário, desencaminha-te.
Na tua cidade há quem esteja parado. Apático ou inquieto há sempre um movimento em si mesmo, nem que seja o coração a bombear a saudade nas suas veias. Há quem fique no mesmo lugar, mas cujo pensamento deambula por todo o micro segundo de pensamento.

Nestes locais nada te pertence ou tem o teu nome assinado por baixo. Mas, por estes instantes, procuras torná-los teus.
Não são histórias de imprensa cor de rosa, nem momentos de pura coscuvilhice. São histórias que se cruzam no teu caminho e que tu crias no regresso a casa. Afinal também te encontras em todos eles, nem que seja na persistência da memória.



quarta-feira, 2 de novembro de 2016

57 dias de mim

São mil histórias e momentos que estão por escrever e por guardar, mas até aqui era difícil registá-los numa plataforma que não o meu pensamento. São mil e um sorrisos acompanhados de mais mil e duas lágrimas.
Nada foi em vão, nem nada será. Nada fica esquecido, nem apagado porque tudo faz parte desta jornada.
Num programa de mobilidade encontramo-nos connosco mesmo. Aprendemos a lidar com a dor da saudade e com a força da mesma.
Manter a mente ocupada foi a grande lição que me ensinaram, não aqui, mas de alguém que sabe e sente o mesmo. Manter o tempo ocupado e a mente distraída. Não esquecemos quem veio também connosco, ou que partiu em busca de si mesmo, mas numa outra cidade.

Deixaram de ser 111 km para ser quase 1200.

"Mas isso não é nada, estás tão perto!" - diz o cérebro ao corpo
"E alguém te perguntou se era um número que importava?" - questiona o coração à mente
"Desliga e conecta-te à cidade" - responde-lhe a mente
"Então e se cada um se organizar em si mesmo e me deixasse inquieta como gosto de ser?" - pergunto eu mesma

Sabe quem parte em busca de si o quanto custa estar longe, mas também sabe quem o fez que a recompensa virá e o tamanho que pode vir a apresentar. Se a ti te custa, imagina aqueles que por ti esperam. As rotinas são as mesmas, o dia a dia não mudou, as pessoas que se cruzam têm o mesmo tom no olhar e na voz e tu aqui estás a ter o privilégio de te conhecer.
Está a funcionar? Estás a crescer? Talvez, quem sabe. Talvez, talvez, talvez... são as palavras que nestes dias encontras como resposta para todas as perguntas que te colocas e que te são colocadas.
Trabalhar cansa? Oh se cansa! Mas ajuda. Ajuda e concentra-te em ti e não no teu pensamento infinito de saudade.

Confuso o que escreves, tal como a tua mente se sente.
Confuso o que sentes, tal como o coração quando acelera por alguém.
Confuso o que queres, mas confia no teu corpo e deixa-te viver.

Sabe Deus, para aqueles que acreditam, o que sentes hoje que acordaste em busca de uma nova rotina.
Sabe tão bem voltares de casa e sentires-te amada e desejada. Por aqueles que tu amas e também por aqueles à qual a tua presença incomoda.
Sou viciada na companhia, na presença e odeio o silêncio. Porém, aqui, sentada no silêncio da madrugada, no céu onde trajetos de viagens se cruzam não procuro um avião ou uma fuga, procuro encontrar-me nesta cidade que outrora fará sempre parte de mim.
Para o bem e para o que seja menos bem, procuro reencontrar-me no conforto de uma cama emprestada, num quarto que sem janela para o exterior metaforiza o encontro virado para mim, para aqueles que me dão força para continuar.
Ora pois bem, são apenas uns kms a mais que o usual, mas sabe quem já saiu que o número não conta. A contagem, essa deixo-a de lado, para que a cada dia que passa, seja menos um dia que falta. Talvez um dia deseje ter tudo de novo, mas desta vez de braço dado.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Tu és linda!

Foi na fugacidade dos dias de verão, entre dias de calor intenso e o número de incêndios, que acordam e não deixam dormir Portugal, a aumentar, que li mais um livro de José Rodrigues dos Santos.
Ainda sem fim determinado por estar dividido em dois volumes, o autor conta nas centenas de páginas que escreve a história de três gerações de uma família.
Pois não me refiro A'Os Mais, até porque meus caros leitores, esse livro é da autoria de Eça de Queirós. Um homem bem mais antigo e com uma postura, pelas imagens que se vão vendo nas aulas de Português, bem mais antiquada e autoritária. Porventura, deveria ser a moda na altura. Se agora passamos o verão a tirar fotos na praia ao tom de bronze das nossas pernas, em tempos antigo um bom bigode numa pintura perfilada fazia furor entre as mulheres.

"É próprio do ser humano que torna as coisas especiais (...) As pessoas têm uma apetência natural por tudo o que acham belo e ficam perturbadas com o que consideram feio". Numa conversa entre o diretor de um museu e a segunda geração da família apresentada na história que surgiu uma tentativa de definir o que é belo, do que é harmonioso e agradável aos olhos de quem vê.
O livro regala os olhos de quem imagina os mercados antigos, das moedas e das tapeçarias do mundo ocidental, de quem pinta na sua mente as descrições sobre as cidades e as ruas que as preenchem. O leitor encontra, aqui, um momento de pausa e de entretenimento. Entre palavras eruditas e momentos da história dos impérios e das religiões, José Rodrigues dos Santos encontra o sustento para mais uma história com bases verídicas.
Durante a sua leitura questionei-me sobre a verdadeira inexistência do conceito de arte. O que existe é sim a criação, o processo em que o homem tenta transcender a sua condição natural e passar de criatura a criador. Nestas mesmas palavras de José Rodrigues dos Santos refleti sobre a emergência do ser belo, da existência de padrões de beleza numa sociedade cada vez mais igual e idêntica entre si.
"O homem de Constantinopla" é o nome do livro que recomendo. O segundo volume ("Um milionário em Lisboa") fica por encontrar numa prateleira de uma livraria ou de alguém que já o tenha folheado.

Nestes dias de verão se nós mulheres mostramos as curvas ou a inexistência delas, olhamos, da mesma forma, para as das outras. Num olhar quase sempre de julgamento procuramos aquilo que não temos ou que temos a mais.
Entre vestidos, calções e camisolas, procuramos o mais fresco e o mais moderno. Se o belo é pessoal e de cada um, então porque os padrões? Porque continuam as nossas mentes a procurar o igual ao da minha amiga do lado?
Num tempo de dietas e em que tudo se recorda da importância do exercício físico, façamos uma pausa e olhemo-nos ao espelho. Porque o fazemos? Por quem o fazemos?
Se o fizermos, pelo menos que seja controlado ou acompanhado. Nunca deixemos de ser saudáveis pelo número desejado de calças que se usa ou pela camisola que compramos porque faremos tudo para que nos sirva.
Não é fácil, mas tentemos gostar de nós mesmas. Afinal o que é o belo se procuramos sempre alguém que nos diga "estás tão bonita hoje".

terça-feira, 28 de junho de 2016

E se partisses


Mulheres vós que os vistes ir
Sem destino ou sequer regresso.
Olho-me ao espelho,
Mas com a certeza da volta.

De um dia querermos ir,
Sem imposições de mão dada
Ou caminhos cruzados,
Ias em busca de oportunidades.

Talvez fosse eu a teu lado.
Não teria de esperar por terra,
Acenando o lenço branco
Do amor eterno.

Se partisses num barco ao vento
Chamar-me-ias de tua companheira de bordo?

sábado, 25 de junho de 2016

Tempo ou Contratempo?

Não sei se é o tempo que passa ou se somos nós que o deixamos passar.
Toca o despertador. Por vezes um banho, por vezes o pijama permanece até que a monotonia das cores e do confortável vestuário se tornem incomodativos.
São oito da manhã e esta semana já não há aulas. Quem nos dera a nós que as obrigações voltassem a ser levantar, vestir e ir para a faculdade. Uma pausa almoço, um fino quando podíamos e de novo subir as escadas até ao piso do anfiteatro.
É verdade que na universidade existem aulas às quais não há obrigatoriedade de participação. Porém, as consequências que daí advém são aceites por cada um dos universitários que de modo autónomo tomou esta decisão. Se faltou não se admire que algo lhe falhará no exame mas, sinceramente, não é por ir a todas e não reler mais do que os conteúdos tecnológicos expostos que estamos a salvo de uma nota que torna o tão apetecível sabor a férias mais longe de ser encontrado.
Ao mesmo tempo somos desafiados a crescer na decisão e naquilo que obtemos quando fazemos escolhas. Não, não somos jovens e por isso fazemos aquilo que nós quisermos. (Querer dizer, fazemos, mas é também daí que advém a responsabilidade) Somos jovens e por isso usufruímos desta liberdade, desta "inconsciência", desta imaturidade de querer ser sempre assim.

Do que menos gosto neste ciclo de estudos? Estudar tudo numa pressa sem sentido ou em cima do joelho. Se existe um semestre que o trabalho seja desenvolvimento durante o mesmo. Se alguns podem ser fruto do tão na moda verbo procrastinar, que o outro seja pela incapacidade de exigir algo mais e contínuo.
De que vale a uma faculdade marcar um calendário letivo com exames, seguidos de frequências, com trabalhos para entregar no fim, se depois somos obrigados, por nós mesmos e em virtude da nossa autorrealização, a ir melhorar ou, na pior das hipóteses, a procurar ainda dar os créditos como feitos?

Somos uma sociedade ao qual a palavra trabalho assusta. Uma sociedade cansada quando deixa tudo para amanhã. Uma sociedade que tal como no jornalismo é impossível existir uma percentagem nula de imparcialidade. Afinal, esta é uma profissão exercida por seres humanos, indivíduos com tendências e convicções que influenciam o seu trabalho.
A única solução para esta impossibilidade seria a alteração da constituição, porém se a audiência questiona-se diretamente o exercer da profissão, os que a executam teriam um maior cuidado no modo como o realizam.
Afinal de contas o jornalismo e os estudos não são matérias tão díspares. Basta apelarmos aos critérios de avaliação, em vez da Constituição.

Não sei se é o tempo que passa ou se somos nós que o deixamos passar, mas desta vez fiz uma pausa antes de almoço, para procrastinar como tanto gosto: a escrever.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

sortudo

Naquele arrepio de madrugada
Sentes-te só, mesmo de mão dada.
De um corpo que não existe,
Mas que te despertou.

Num rasgar de luz
Fechas de novo os olhos
E sorris.
Ele diz-te "até já, encontramo-nos mais logo".

Sonhas com o seu regresso
Como mais nada desejasses.

Sonhas com a sua ida
Como mais nada te entristece-se.

Mas como mulher, tu segues.
Abres os olhos e a persiana.
Dizes "bom dia" sem vontade
E sorris, com um que não é teu.

Naquele arrepio de madrugada
Não vais sozinha,
Vais de mão dada
Com o sortudo que te acordou.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Seja apenas mais um dia

Entre o campo e o mar há sorrisos que parecem o de uma criança. Azul e rosa continuam a ser as cores que mais distinguem o menino da menina, mas afinal são ambos crianças que carregaram um dia o sonho de se vestir de branco e preto.
Apesar de hoje em dia já não ser tão usual seguir a tradição foi ainda com o véu que se protegeram do arroz e das pétalas de rosa. Num dia em que os dias contam sem contar surgiu o compromisso de um dia eterno.
Sem nomes apresento-os como o rosa e o azul. São eles crianças de dois dígitos de idade e de aliança no dedo anelar da mão esquerda. Da direita para a esquerda surge o momento sério do assumir um compromisso, daqueles que as crianças não gostam, mas que melhor sabem levar até ao fim.
Ninguém melhor do que elas para guardar um segredo, sem hipocrisias ou tentativas de fazer-se melhor do que o outro. São quem mais se cinge à importância de se saber ser fiel, de honrar compromissos e de proteger quem quer que seja até ao fim.
"Se magoaste a minha amiga, magoaste-me a mim" é a frase que mais dizem numa discussão que em nada lhes remete. Mas se entre o marido e a mulher não se mete a colher, ao longo dos tempos somos educados (ou supostamente ensinados) a saber distinguir o bem do mal, o momento em que devemos falar daquele que respondemos com o silêncio.
Ausência de ruído foi o que nunca aconteceu, apenas em momentos de homenagem a quem está presente ou mesmo para aqueles que o céu era "tão longe".
Espírito jovem e de plena felicidade é o que se vive nestes dias de festa. Entre mensagens, prato de peixe, recordações, prato de carne, um passo de dança e a sobremesa reforçam-se laços entre conhecidos e desconhecidos. Com quem não se conhece fica o gosto de partilhar e de testemunhar o momento do rosa e do azul. Com quem se conhece bem fica, por vezes, a chave e o boquê. (Mas essa história de duas crianças fica para mais tarde contar)
Hoje, dia da criança, reflete-se sobre a importância que têm os seus direitos e neste caso o direito à "proteção especial e a todas as facilidades e oportunidades para se desenvolver plenamente, com liberdade e dignidade".
Seja qual a idade o "prometo proteger-te como tal" é sinónimo de uma relação seja ela de amizade ou que a essa amizade lhe seja acrescentada amor. Não será te todo que aquela criança sobre a qual tantas histórias escrevo e quero escrever diz que "felicidade é ser criança com a consciência de o ser".


Saberão bem aqueles que já o afirmaram
A vontade de que seja apenas mais um dia.
Afinal o coração bate
Por quem os dias contam sem contar.

Todos somos crianças até que os próprios o afirmam em contrário. Os direitos das crianças, todos eles, existem nos direitos da mulher e do homem, afinal o sonho de um dia andar num carro amarelo perdura e não importa a idade.




terça-feira, 24 de maio de 2016

Um céu de estrelas e de laternas dos smartphones

"A partir de agora deixam de ser milhares de pessoas para ser milhares de estrelas". Foi assim que Mika se apresentou aos cerca de 75 milhares de pessoas presentes. Na minha opinião revelou-se a surpresa de uma noite em que o público ansiava o regresso das lendas a palco.
Entre os mais antigos êxitos do artista britânico foi com a música Underwater que fez encher de numerosas luzes o recinto do festival de música.
Familiarizado com a música portuguesa, "obrigado" foi a palavra carinhosamente recebida pelo público com múltiplos aplausos. Porém o artista não se ficou pela língua portuguesa. Com uma história contada na primeira pessoa relembrou a sua noite anterior pelo Bairro Alto. A convite de alguns amigos o artistas desafiou-se a cantar o fado.
Pela primeira vez em estreia absoluta, Mika fez-se acompanhar de dois guitarristas portugueses em pleno Palco Mundo do Rock in Rio Lisboa. Uma guitarra clássica e outra de fado fizeram deste o momento mais emblemático da noite que com a musica "meu fado" o artista fez render o público à sua própria cultura e tradição. Mika trouxe ainda Mariza a palco, a própria artista da música "Meu fado meu".

(Se somos portugueses orgulhosos da nossa cultura porque apenas nos lembramos dela quando os estrangeiros nos "forçam" a ouvir as cordas de uma guitarra?)

Descontraído, familiar, deslocado do movimento citadino de lisboa, consumista e festivaleiro é como descrevo o ambiente sentido em pleno parque da Bela Vista.
Sim é verdade que quase nada podemos levar para dentro do recinto, assim como o preço inflacionado de qualquer produto alimentar que se adquira dentro do mesmo. Dois euros e meio é o preço de uma fatia de pizza e dois euros o de uma garrafa de água. Faça as contas dos verdadeiros interessados num festival em que nem todos entram face ao preço, apesar da qualidade. Um balanço de contas e de escolhas é aquilo que o festival, assim como qualquer atividade de entretenimento, levanta dentro de cada um dos participantes antes ou depois de adquirir o bilhete para o evento.

Seis é o número de palcos que existem e duas dezenas os artistas que o cartaz apresentava. Num mundo de escolhas a evolução das tecnologias facilitou a organização do tempo e das distâncias. Com a aplicação oficial do evento tornou-se possível agendar concertos e deixar, ao mesmo tempo, que o encontro pelos diversos géneros musicais me surpreendessem.
Apesar da agenda preenchida os ritmos originais do Brasil não poderiam faltar numa noite tão bem acompanhada. Se de coração cheio vamos vivendo diferentes experiências foi por uns momentos que imaginei o chinelinho no dedo, o vestidinho branco e uma praia do Brasil mesmo ali. Afinal temperatura não foi preciso imaginar, assim como o meu par de dança. Bastou o sorriso e uma dança pontual para tornar a noite mais quente e mexida como num filme qualquer que termine com um copo de caipirinha na mão.

Se de lendas se escrevem histórias foi com o "Queen" que o Palco Mundo encheu. "Love of my life" (musical e metaforicamente) fez a minha noite. Mais uma vez com uma simples guitarra e o gosto pelos anos de experiência que Brian May fez do dia 20 do mês que o seu nome não esquece uma noite de memórias.
Para os que mais conhecem ficou a homenagem ao "único" Freddie Mercury proferido pelo atual cantor que acompanha a banda com 46 anos de existência. Foi nas palavras de Adam Lambert, tão caracterizado pela ousadia do vestuário e das expressões enquanto canta, que agradeceu e repetiu a "honra" que é pisar o palco com grandes nomes da música internacional.
Também Roger Tayler, o baterista fez qualquer membro da audiência suspirar de alivio por cada uma das suas respirações no fim de cada um dos seus solos, intensos e agitados, que levantaram as mãos do público ao mais ruidosos aplausos. Se o cabelo branco ou os anos de vida são sinónimo de talento então o "loiro de olhos azuis" não perdeu o brilho nos olhos das suas secretas admiradoras.
"We are the champions" foi o tema que encerrou o concerto, mas isso nunca seria de admirar face a mais uma vitória do Sport Lisboa Benfica no campeonato nacional de futebol.
Desta frase fica somente a provocação de um momento final de noite em que o ambiente familiar e de família concretizou o sonho do aconchego dos braços de quem nos faz arder o coração, a música, talvez.










terça-feira, 10 de maio de 2016

Haveria eu...

Se o silêncio fosse ter voz
E ter voz um modo de agir,
Agiria em conformidade com os meus pensamentos,
Pensamentos esses que não terminam.

Erra apenas quem arrisca
E arrisca apenas quem tem medo.
Medo da desilusão,
Anseio da virtude.

Sabe Deus o quanto queremos pedir desculpa
A quem desiludimos
Ou sentimos ter desiludido.

Pior de tudo é não saber,
Como falar,
Como agir,
Como procurar devolver o sorriso.

Se as ações fossem feitas
E os pensamentos refletidos,
Haveria eu de pedir desculpa
Sem o ser preciso fazer.

Afinal agir é ter voz
E ter voz é falar pelo silêncio

terça-feira, 26 de abril de 2016

Colar de missangas

Faz já muito tempo desde a última vez que escrevi. Talvez por preguiça ou simplesmente pela minha sempre difícil capacidade de admitir, dificuldade em fazer com que o dia tenha mais do que 24 horas.
Faz já muito tempo, mas a vontade sempre ficou e apesar de parecer cada vez mais profissional (e desculpem a minha ousadia) a fazê-lo, sinto que há lados de criatividade, ou melhor, de poesia que em nada se perderam.
O gosto por um título mais ousado e menos informativo, por uma temática mais personalizada do que generalista trouxe-me, tal como aprendi nas minhas aulas de socioeconomia, uma maior atenção à necessidade de investir na diversidade. Sermos todos generalistas e superficiais na informação e no modo como escrevemos apenas nos torna desinteressantes, sem quaisquer lucros e gratuitos. Mas afinal isso do custo zero, somos todos.
Num mundo, ou melhor, numa Europa e América de hoje, em que o gosto pelo papel se veio a perder o maior interesse que tenho é escrever numa folha. Não sei se sou a única a sentir o cheiro a novo ou o relevo das letras que contam histórias ou relatam dados no inverso da folha. Mas quem me dera a mim que se desistisse desta insistência ridícula de sermos os primeiros a chegar ou a dar, de sermos quem mais dá.
Que tal não termos medo de chegar em último, mas sermos bons?
Que tal ser igual a alguém, mas procurar servir o verdadeiro princípio da comunicação?
Porque temos de estar sempre rodeados daqueles que ingenuamente designamos de "inferiores" a nós, se consequentemente vamos ser rodeados por pessoas menos boas do que essas das quais nos fizemos rodear. Se fomos os mais burros e tomamos o privilégio de aqui, sim, sermos os primeiros, então acabamos por nos rodear profissional e pessoalmente por um conjunto deles.
Burros somos nós se um dia continuarmos a achar que é assim que devemos informar e dar a informar-se. Se um dia lutámos pela liberdade de uma constituição, então que o façamos de modo a cumprir também o artigo 37º. Acima de tudo a liberdade de informar, de se informar e de ser informado.
Seremos nós capazes ou teremos novamente de correr atrás das tendências?
Neste fim de semana em que fui desafiada a questionar-me sobre ser visível, então qual é o meu papel? Se todos temos um na sociedade, qual será o de cada um de nós?
Podemos nem sempre terminar a exercer naquela que foi a nossa área de estudos durante alguns e bons anos, afinal só quem erra sabe que arriscou.
Tal como um diria um grande poeta que conheci "no fim do sentimento não há nada. Em cada princípio há uma promessa". Que saiba eu ver esses princípios que hoje me revoltam e me fazem questionar a realidade da área que (talvez) venha a trabalhar, que no meio de tanta especulação, inflação e mercados seja capaz de encontrar a tal promessa que os números apresentam.
Contudo, que acima de tudo saiba aprender todos os dias a amar na distância de um coração entrelaçado um no outro e que o conjunto de missangas, tão bem escolhidas e alinhadas, encontrem o fio ideal do sentido, para o poder usar na noite mais bonita em que finalmente o calor regressa.
 
Foto: Rita Flores (pelas ruas da cidade dos estudantes)

domingo, 10 de janeiro de 2016

Custo de oportunidade

Querido Diário...

Esta noite escrevo-te porque se passa isso mesmo, chegou a noite.
Sabes aquele momento em que paras para pensar em tudo aquilo que fizeste no teu dia ou no fim de semana e a única coisa que respondes é "Estudei"?
Sabes esse momento em que queres escrever, mas tens de ficar pelas leituras? Leituras sobre Democracia e sobre a personalização de um político. Sobre a elasticidade da oferta ou simplesmente tentar perceber o porquê de existirem falácias em economia, quando pensavas que tinhas deixado isso no secundário, na disciplina de filosofia.
Sabes, na verdade, nem sei bem porque te escrevo como se fosses um amigo ou um companheiro de cabeceira afinal és como um mercado monopolístico. Apenas eu te controlo, estabeleço quando escrevo e barro naturalmente a entrada a qualquer outra pessoa que te queira ler.
Mas a realidade é que o meu quarto é como um mercado de concorrência imperfeita. Para além de teoricamente se dizer que as empresas não dão importância às decisões tomadas pelas outras empresas, nada lhes escapa, apenas são mais espertas e utilizam meios mais baratos de estar atentas. Tal como num quarto. Nada escondes, ou talvez escondes mas não o dizes (daí ser escondido), mas também não queres que te entrem assim no quarto a gritar "Rita! Vai dar um filme brutal ou está a dar um documentário sobre a cidade do Porto!". (Não sei bem porquê, mas parece que agora cada vez que vejo ou leio algo sobre esta nova cidade dou por mim a sorrir).
Prosseguindo... na verdade é interessante estudar economia pelo simples facto de nada fazer sentido e de tudo fazer sentido.
Dou por mim a pagar, ou melhor, dou pelos meus pais a pagarem propinas para depois aprender a ser autodidacta.
Sim, um aluno deve aprender a procurar e a oferecer. E sim, tudo como nos mercados: quanto maior o preço, menor a quantidade procurada. Afinal se não encontramos logo aquilo que procuramos simplesmente escolhemos outro produto, ou melhor outra matéria ou outro livro para ler. Ainda mais acontece se existir um substituto próximo e com um "preço" bem mais acessível.
Com bens complementares é que um estudante sai satisfeito. Tal como num bitoque o bom é comer o arroz com as batatas fritas, se o aluno tivesse tempo para ler todas as obras indicadas ou que lhe despertam mais interesse, também a utilidade e satisfação que elas teriam seria maiores.
Porém o tempo é como o capital (ou o rendimento), parece que não estica. Não é de todo elástico, mas essa teoria fica para mais tarde.
Querido Diário, não sei bem como te explicar, mas como estudante da Universidade sinto que isto do Custo de oportunidade faz todo o seu sentido. Aquela ideia de que ao haver uma escolha há outras que são desperdiçadas. Então pronto, parece que agora vou ter de "deixar de lado" o telemóvel, as viagens e a guitarra, para que a longo prazo estes custos não sejam fixos, mas sim variáveis, para que os possa trocar por bens ou serviços que despertam em mim maior bem estar.

(Obrigada Microeconomia pela lição)
Até já,



sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

12 passas, 12 desejos

Um novo ano, novas ideias, há tanto que quero viver. Mas para tudo começar eu vou ter de arrancar.
Não chega de planos, nem sonhos.
Não chega de lutas ou desafios.
Não chega de esperar, nem que querer sempre mais.
Os meus 12 desejos? Ainda não pensei bem neles, mas todos os anos os escrevo e todos os anos vejo quantos deles ficaram por realizar.
Paris? Nop ainda está na lista.
Aprender, ou melhor, dedicar mais tempo à cozinha? Depende dos dias e da vontade.
E quantos mais se foram acumulando...
Mas como eles dizem "mudam-se os tempos, mudam-se as vontade", assim também os sonhos das 12 passas se vão alterando.
O que é verdadeiro permanece;
Por aquilo e por quem lutamos faz-nos crescer;
Os desafios? venham eles!
Desejo que seja um ano de viagens, de reconhecimento, de enriquecimento, de cultura, de viagens (sim repito para ter a certeza que não me esquecerei daquilo que vais gosto de fazer: conhecer pessoas, locais, edifícios, lagos, jardins... e escrever sobre eles).
Que seja um ano repleto de abraços reconfortantes e bem fortes, porque sejam eles quantos forem os dias de espera valerão sempre a pena, afinal de que serviria a alma se fosse pequena?