quarta-feira, 16 de maio de 2018

Esperar-me!

No limite dos dias encontramos ao fim-de-semana. Tempo em que a palavra encontro se repete. Torna-se num reencontro. Dois corações que ansiosamente aguardam o bater do seu companheiro, daquele que não fez a viagem, mas que o espera no estacionamento mais próximo da estação.

No comboio costumo escrever textos. Pequenas histórias que procuram ligar o que aprendi durante a semana nas aulas de economia ou gestão com o meu lado mais romântico, mais quente e sonhador. Aquele lado que ingenuamente acredita que um dia também eu escreverei um livro, darei autografias e dedicarei frases soltas a corações que também batem ou um dia bateram tão rápido como o meu.

Todas as sextas-feiras, em que o comboio me traz de volta a casa, tiro a marcação, rezo baixinho na fila para que o alfa-pendular não esteja esgotado e continuo a rezar para que na estação não escute uma voz calma e feminina exclamando “pedimos desculpa pelo incómodo causado”.

Chegou atrasado, mas já me posso sentar e acreditar que ninguém vai olhar para o identificador da minha mala de viagens com o nome da universidade onde estudo e acreditar que carrego pesados apelidos ou leves cartões. Caso tenham curiosidade trago apenas roupa interior usada, camisolas que não vou mais repetir, antes de serem lavadas, face as sensações olfáticas que podem vir a transmitir aos que me rodeiam, as tolhas de banho ou os lençóis da minha cama individual conforme o fim-de-semana em que viajo. Normalmente troco tudo de quinze em quinze dias.

Uma hora de viagem já passou. Acabei por adormecer com o cansaço de tentar trabalhar no computador. Apanhei um lugar de costas. De certa maneira enjoo da viagem, da conversa do senhor ao fundo do corredor que tem sempre a sua secretária a ligar-lhe ou da senhora que não foi capaz de aguardar o fim da sua solitária viagem de comboio para contar todos os pormenores das suas idas ao supermercado.

Paramos agora em Pombal. A seguir passamos Alfarelos e a já saio na próxima paragem. Costumo ter o truque de estar atenta à paisagem e assim que vejo a Escola Superior Agrária de Coimbra levanto-me. Aparentemente calma tento controlar todas as borboletas que têm vivido no meu estomago (ou intestino) ao longo destes quase quatro anos de boleias.

“Próxima paragem: Coimbra-B!” Desta vez uma voz rouca masculina. Desço o comboio, sempre com o cuidado para não deixar cair o telemóvel no buraquinho que separa os degraus da plataforma e faço a chamada. Estou de volta. Já regressei! Esperaste-me?