segunda-feira, 18 de junho de 2018

Abram os olhos... "nós (continuamos) numa corda"

Inquietações e interrogações. Problemas e soluções. Pensamentos e atitudes.
Nada mais valorizo na arte se não a sua capacidade de agitar o meu interior. "Nós numa corda", um texto de Miguel Castro Caldas, foi a peça de teatro encenada por João Paiva que me fez repensar sobre o modo como as várias "personagens" de uma escola são responsáveis pelo seu exímio funcionamento.

Todos os que por nós, alunos, são responsáveis, nada mais nos pedem senão que tentemos cumprir o mínimo possível. Dos pais aos professores, dos explicadores às auxiliares da ação educativa, dos alunos aos alunos, todos fazemos parte de um sistema de ensino que parece não ter saído do mesmo lugar ao longo dos últimos 10 anos.
Qual foi a diferença entre a tua aprendizagem e a da tua irmã mais nova? Qual foi a diferença entre o teu professor e o professor do teu irmão mais velho? Permancemos todos no silêncio de uma resposta que parece não surgir. Na ignorância permanecemos, no incumprimento e no desrespeito crescemos como alunos e tornamo-nos adultos de um amanhã que os mais velhos em nada parecem acreditar.

"Nós numa corda" foi a peça de teatro à qual tive o prazer e o privilégio de assistir no passado sábado no Teatrão, Oficina Municipal do Teatro da cidade de Coimbra. É com grande pena minha que a cidade não abraça mais as obras de arte que dali surgem. Discutivel, como é óbvio, mas pelo menos se debatessemos este assunto era sinal que estavamos a dar espaço ao teatro. Afinal, tal como todas as formas de arte e cultura, esta permite que os jovens aprendam a expressar-se, a saber lidar com diferentes personalidades e carácteres, mesmo que se fale dos professores.

Foi no decorrer desta peça de teatro, apresentada por um grupo de 11 jovens entre os 10 e os 15 anos que me inquietei. Foi durante esta peça que me senti desrespeitada como aluna, que me senti triste como filha, revoltada como cidadã adulta que sou e cidadã exemplar que quero ser. Gostava mesmo muito que "Nós por uma corda" chegasse mais longe e fosse mostrada a todos os que integram aquele que é a escola em Portugal! Sim, porque para que alguns adultos integrem o mercado de trabalho e que este seja continuamente alimentado, existem outros que têm de continuar na escola. A eles, mesmo que muitas vezes indiferentes e cabiz baixo, devemos o nosso respeito e o nosso valor.

Quanto ao nível do ensino, esse é o dever que cabe aos nossos governantes. Abram os olhos! Abram os olhos aos nossos diretores e questionem-se porque tantos jovens copiam, porque tantos jovens saem da faculdade sem qualquer hábito de estudo ou motivação para agir, porque tantos jovens continuam a olhar o professor como um inimigo! Abram os olhos porque em vós depositamos total confiança para nos formarmos e sermos capazes de gerir um mundo que, um dia, também queremos entregar.

E vós pais? Abram também os olhos porque afinal há mais de 10 anos eram vocês que ali estavam. Eram vocês que sentiam que a educação vinha, primeiro que tudo, da vossa casa, do vosso lar.


Fotografia: Raquel Bidarra