terça-feira, 26 de abril de 2016

Colar de missangas

Faz já muito tempo desde a última vez que escrevi. Talvez por preguiça ou simplesmente pela minha sempre difícil capacidade de admitir, dificuldade em fazer com que o dia tenha mais do que 24 horas.
Faz já muito tempo, mas a vontade sempre ficou e apesar de parecer cada vez mais profissional (e desculpem a minha ousadia) a fazê-lo, sinto que há lados de criatividade, ou melhor, de poesia que em nada se perderam.
O gosto por um título mais ousado e menos informativo, por uma temática mais personalizada do que generalista trouxe-me, tal como aprendi nas minhas aulas de socioeconomia, uma maior atenção à necessidade de investir na diversidade. Sermos todos generalistas e superficiais na informação e no modo como escrevemos apenas nos torna desinteressantes, sem quaisquer lucros e gratuitos. Mas afinal isso do custo zero, somos todos.
Num mundo, ou melhor, numa Europa e América de hoje, em que o gosto pelo papel se veio a perder o maior interesse que tenho é escrever numa folha. Não sei se sou a única a sentir o cheiro a novo ou o relevo das letras que contam histórias ou relatam dados no inverso da folha. Mas quem me dera a mim que se desistisse desta insistência ridícula de sermos os primeiros a chegar ou a dar, de sermos quem mais dá.
Que tal não termos medo de chegar em último, mas sermos bons?
Que tal ser igual a alguém, mas procurar servir o verdadeiro princípio da comunicação?
Porque temos de estar sempre rodeados daqueles que ingenuamente designamos de "inferiores" a nós, se consequentemente vamos ser rodeados por pessoas menos boas do que essas das quais nos fizemos rodear. Se fomos os mais burros e tomamos o privilégio de aqui, sim, sermos os primeiros, então acabamos por nos rodear profissional e pessoalmente por um conjunto deles.
Burros somos nós se um dia continuarmos a achar que é assim que devemos informar e dar a informar-se. Se um dia lutámos pela liberdade de uma constituição, então que o façamos de modo a cumprir também o artigo 37º. Acima de tudo a liberdade de informar, de se informar e de ser informado.
Seremos nós capazes ou teremos novamente de correr atrás das tendências?
Neste fim de semana em que fui desafiada a questionar-me sobre ser visível, então qual é o meu papel? Se todos temos um na sociedade, qual será o de cada um de nós?
Podemos nem sempre terminar a exercer naquela que foi a nossa área de estudos durante alguns e bons anos, afinal só quem erra sabe que arriscou.
Tal como um diria um grande poeta que conheci "no fim do sentimento não há nada. Em cada princípio há uma promessa". Que saiba eu ver esses princípios que hoje me revoltam e me fazem questionar a realidade da área que (talvez) venha a trabalhar, que no meio de tanta especulação, inflação e mercados seja capaz de encontrar a tal promessa que os números apresentam.
Contudo, que acima de tudo saiba aprender todos os dias a amar na distância de um coração entrelaçado um no outro e que o conjunto de missangas, tão bem escolhidas e alinhadas, encontrem o fio ideal do sentido, para o poder usar na noite mais bonita em que finalmente o calor regressa.
 
Foto: Rita Flores (pelas ruas da cidade dos estudantes)