quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Tu és linda!

Foi na fugacidade dos dias de verão, entre dias de calor intenso e o número de incêndios, que acordam e não deixam dormir Portugal, a aumentar, que li mais um livro de José Rodrigues dos Santos.
Ainda sem fim determinado por estar dividido em dois volumes, o autor conta nas centenas de páginas que escreve a história de três gerações de uma família.
Pois não me refiro A'Os Mais, até porque meus caros leitores, esse livro é da autoria de Eça de Queirós. Um homem bem mais antigo e com uma postura, pelas imagens que se vão vendo nas aulas de Português, bem mais antiquada e autoritária. Porventura, deveria ser a moda na altura. Se agora passamos o verão a tirar fotos na praia ao tom de bronze das nossas pernas, em tempos antigo um bom bigode numa pintura perfilada fazia furor entre as mulheres.

"É próprio do ser humano que torna as coisas especiais (...) As pessoas têm uma apetência natural por tudo o que acham belo e ficam perturbadas com o que consideram feio". Numa conversa entre o diretor de um museu e a segunda geração da família apresentada na história que surgiu uma tentativa de definir o que é belo, do que é harmonioso e agradável aos olhos de quem vê.
O livro regala os olhos de quem imagina os mercados antigos, das moedas e das tapeçarias do mundo ocidental, de quem pinta na sua mente as descrições sobre as cidades e as ruas que as preenchem. O leitor encontra, aqui, um momento de pausa e de entretenimento. Entre palavras eruditas e momentos da história dos impérios e das religiões, José Rodrigues dos Santos encontra o sustento para mais uma história com bases verídicas.
Durante a sua leitura questionei-me sobre a verdadeira inexistência do conceito de arte. O que existe é sim a criação, o processo em que o homem tenta transcender a sua condição natural e passar de criatura a criador. Nestas mesmas palavras de José Rodrigues dos Santos refleti sobre a emergência do ser belo, da existência de padrões de beleza numa sociedade cada vez mais igual e idêntica entre si.
"O homem de Constantinopla" é o nome do livro que recomendo. O segundo volume ("Um milionário em Lisboa") fica por encontrar numa prateleira de uma livraria ou de alguém que já o tenha folheado.

Nestes dias de verão se nós mulheres mostramos as curvas ou a inexistência delas, olhamos, da mesma forma, para as das outras. Num olhar quase sempre de julgamento procuramos aquilo que não temos ou que temos a mais.
Entre vestidos, calções e camisolas, procuramos o mais fresco e o mais moderno. Se o belo é pessoal e de cada um, então porque os padrões? Porque continuam as nossas mentes a procurar o igual ao da minha amiga do lado?
Num tempo de dietas e em que tudo se recorda da importância do exercício físico, façamos uma pausa e olhemo-nos ao espelho. Porque o fazemos? Por quem o fazemos?
Se o fizermos, pelo menos que seja controlado ou acompanhado. Nunca deixemos de ser saudáveis pelo número desejado de calças que se usa ou pela camisola que compramos porque faremos tudo para que nos sirva.
Não é fácil, mas tentemos gostar de nós mesmas. Afinal o que é o belo se procuramos sempre alguém que nos diga "estás tão bonita hoje".