terça-feira, 24 de maio de 2016

Um céu de estrelas e de laternas dos smartphones

"A partir de agora deixam de ser milhares de pessoas para ser milhares de estrelas". Foi assim que Mika se apresentou aos cerca de 75 milhares de pessoas presentes. Na minha opinião revelou-se a surpresa de uma noite em que o público ansiava o regresso das lendas a palco.
Entre os mais antigos êxitos do artista britânico foi com a música Underwater que fez encher de numerosas luzes o recinto do festival de música.
Familiarizado com a música portuguesa, "obrigado" foi a palavra carinhosamente recebida pelo público com múltiplos aplausos. Porém o artista não se ficou pela língua portuguesa. Com uma história contada na primeira pessoa relembrou a sua noite anterior pelo Bairro Alto. A convite de alguns amigos o artistas desafiou-se a cantar o fado.
Pela primeira vez em estreia absoluta, Mika fez-se acompanhar de dois guitarristas portugueses em pleno Palco Mundo do Rock in Rio Lisboa. Uma guitarra clássica e outra de fado fizeram deste o momento mais emblemático da noite que com a musica "meu fado" o artista fez render o público à sua própria cultura e tradição. Mika trouxe ainda Mariza a palco, a própria artista da música "Meu fado meu".

(Se somos portugueses orgulhosos da nossa cultura porque apenas nos lembramos dela quando os estrangeiros nos "forçam" a ouvir as cordas de uma guitarra?)

Descontraído, familiar, deslocado do movimento citadino de lisboa, consumista e festivaleiro é como descrevo o ambiente sentido em pleno parque da Bela Vista.
Sim é verdade que quase nada podemos levar para dentro do recinto, assim como o preço inflacionado de qualquer produto alimentar que se adquira dentro do mesmo. Dois euros e meio é o preço de uma fatia de pizza e dois euros o de uma garrafa de água. Faça as contas dos verdadeiros interessados num festival em que nem todos entram face ao preço, apesar da qualidade. Um balanço de contas e de escolhas é aquilo que o festival, assim como qualquer atividade de entretenimento, levanta dentro de cada um dos participantes antes ou depois de adquirir o bilhete para o evento.

Seis é o número de palcos que existem e duas dezenas os artistas que o cartaz apresentava. Num mundo de escolhas a evolução das tecnologias facilitou a organização do tempo e das distâncias. Com a aplicação oficial do evento tornou-se possível agendar concertos e deixar, ao mesmo tempo, que o encontro pelos diversos géneros musicais me surpreendessem.
Apesar da agenda preenchida os ritmos originais do Brasil não poderiam faltar numa noite tão bem acompanhada. Se de coração cheio vamos vivendo diferentes experiências foi por uns momentos que imaginei o chinelinho no dedo, o vestidinho branco e uma praia do Brasil mesmo ali. Afinal temperatura não foi preciso imaginar, assim como o meu par de dança. Bastou o sorriso e uma dança pontual para tornar a noite mais quente e mexida como num filme qualquer que termine com um copo de caipirinha na mão.

Se de lendas se escrevem histórias foi com o "Queen" que o Palco Mundo encheu. "Love of my life" (musical e metaforicamente) fez a minha noite. Mais uma vez com uma simples guitarra e o gosto pelos anos de experiência que Brian May fez do dia 20 do mês que o seu nome não esquece uma noite de memórias.
Para os que mais conhecem ficou a homenagem ao "único" Freddie Mercury proferido pelo atual cantor que acompanha a banda com 46 anos de existência. Foi nas palavras de Adam Lambert, tão caracterizado pela ousadia do vestuário e das expressões enquanto canta, que agradeceu e repetiu a "honra" que é pisar o palco com grandes nomes da música internacional.
Também Roger Tayler, o baterista fez qualquer membro da audiência suspirar de alivio por cada uma das suas respirações no fim de cada um dos seus solos, intensos e agitados, que levantaram as mãos do público ao mais ruidosos aplausos. Se o cabelo branco ou os anos de vida são sinónimo de talento então o "loiro de olhos azuis" não perdeu o brilho nos olhos das suas secretas admiradoras.
"We are the champions" foi o tema que encerrou o concerto, mas isso nunca seria de admirar face a mais uma vitória do Sport Lisboa Benfica no campeonato nacional de futebol.
Desta frase fica somente a provocação de um momento final de noite em que o ambiente familiar e de família concretizou o sonho do aconchego dos braços de quem nos faz arder o coração, a música, talvez.










terça-feira, 10 de maio de 2016

Haveria eu...

Se o silêncio fosse ter voz
E ter voz um modo de agir,
Agiria em conformidade com os meus pensamentos,
Pensamentos esses que não terminam.

Erra apenas quem arrisca
E arrisca apenas quem tem medo.
Medo da desilusão,
Anseio da virtude.

Sabe Deus o quanto queremos pedir desculpa
A quem desiludimos
Ou sentimos ter desiludido.

Pior de tudo é não saber,
Como falar,
Como agir,
Como procurar devolver o sorriso.

Se as ações fossem feitas
E os pensamentos refletidos,
Haveria eu de pedir desculpa
Sem o ser preciso fazer.

Afinal agir é ter voz
E ter voz é falar pelo silêncio