sábado, 5 de novembro de 2016

Persistência da memória

Na tua rua há sempre aqueles dois que passeiam de braço dado. Um beijinho na bochecha, outro na teste e nada mais do que os dedos entrelaçados uns nos outros.
Há sempre aquelas duas personagens que não encontram os limites da expressão do amor e se abraçam como que num espaço íntimo ou de toque pessoal.
Há sempre os dois corações que faz anos que se sentam no mesmo banco. Sempre à mesma hora, sempre com o sol no mesmo espaço do céu, mesmo que com o tempo aquele lugar comece a ser ocupado por mais pequenos corações.

No teu bairro há sempre quem passeio sozinho, no silêncio de um fio conectado à orelha que quebra a monotonia do vento e das folhas de outono que começam a dançar dos ramos das árvores.
No teu bairro há sempre quem se junte aos poucos. Um grupo de amigos que se cruza num olá animado de saudade, mesmo que ainda no dia anterior tenham testado o limite de paciência daquele que os tentar ensinar a relação entre os metais e os não metais da tabela periódica.

Na tua cidade há sempre quem caminhe de olhos postos no chão. Naquele equipamento iluminado que tantas vezes faz um sorriso embaraçado surgir na agitação da calçada.
Na tua cidade há quem caminhe no sentido inverso. Pareces ser tu, muitas vezes, mas com o tempo aprendes que a corrente a nenhum lugar te leva, pelo contrário, desencaminha-te.
Na tua cidade há quem esteja parado. Apático ou inquieto há sempre um movimento em si mesmo, nem que seja o coração a bombear a saudade nas suas veias. Há quem fique no mesmo lugar, mas cujo pensamento deambula por todo o micro segundo de pensamento.

Nestes locais nada te pertence ou tem o teu nome assinado por baixo. Mas, por estes instantes, procuras torná-los teus.
Não são histórias de imprensa cor de rosa, nem momentos de pura coscuvilhice. São histórias que se cruzam no teu caminho e que tu crias no regresso a casa. Afinal também te encontras em todos eles, nem que seja na persistência da memória.



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