terça-feira, 28 de junho de 2016

E se partisses


Mulheres vós que os vistes ir
Sem destino ou sequer regresso.
Olho-me ao espelho,
Mas com a certeza da volta.

De um dia querermos ir,
Sem imposições de mão dada
Ou caminhos cruzados,
Ias em busca de oportunidades.

Talvez fosse eu a teu lado.
Não teria de esperar por terra,
Acenando o lenço branco
Do amor eterno.

Se partisses num barco ao vento
Chamar-me-ias de tua companheira de bordo?

sábado, 25 de junho de 2016

Tempo ou Contratempo?

Não sei se é o tempo que passa ou se somos nós que o deixamos passar.
Toca o despertador. Por vezes um banho, por vezes o pijama permanece até que a monotonia das cores e do confortável vestuário se tornem incomodativos.
São oito da manhã e esta semana já não há aulas. Quem nos dera a nós que as obrigações voltassem a ser levantar, vestir e ir para a faculdade. Uma pausa almoço, um fino quando podíamos e de novo subir as escadas até ao piso do anfiteatro.
É verdade que na universidade existem aulas às quais não há obrigatoriedade de participação. Porém, as consequências que daí advém são aceites por cada um dos universitários que de modo autónomo tomou esta decisão. Se faltou não se admire que algo lhe falhará no exame mas, sinceramente, não é por ir a todas e não reler mais do que os conteúdos tecnológicos expostos que estamos a salvo de uma nota que torna o tão apetecível sabor a férias mais longe de ser encontrado.
Ao mesmo tempo somos desafiados a crescer na decisão e naquilo que obtemos quando fazemos escolhas. Não, não somos jovens e por isso fazemos aquilo que nós quisermos. (Querer dizer, fazemos, mas é também daí que advém a responsabilidade) Somos jovens e por isso usufruímos desta liberdade, desta "inconsciência", desta imaturidade de querer ser sempre assim.

Do que menos gosto neste ciclo de estudos? Estudar tudo numa pressa sem sentido ou em cima do joelho. Se existe um semestre que o trabalho seja desenvolvimento durante o mesmo. Se alguns podem ser fruto do tão na moda verbo procrastinar, que o outro seja pela incapacidade de exigir algo mais e contínuo.
De que vale a uma faculdade marcar um calendário letivo com exames, seguidos de frequências, com trabalhos para entregar no fim, se depois somos obrigados, por nós mesmos e em virtude da nossa autorrealização, a ir melhorar ou, na pior das hipóteses, a procurar ainda dar os créditos como feitos?

Somos uma sociedade ao qual a palavra trabalho assusta. Uma sociedade cansada quando deixa tudo para amanhã. Uma sociedade que tal como no jornalismo é impossível existir uma percentagem nula de imparcialidade. Afinal, esta é uma profissão exercida por seres humanos, indivíduos com tendências e convicções que influenciam o seu trabalho.
A única solução para esta impossibilidade seria a alteração da constituição, porém se a audiência questiona-se diretamente o exercer da profissão, os que a executam teriam um maior cuidado no modo como o realizam.
Afinal de contas o jornalismo e os estudos não são matérias tão díspares. Basta apelarmos aos critérios de avaliação, em vez da Constituição.

Não sei se é o tempo que passa ou se somos nós que o deixamos passar, mas desta vez fiz uma pausa antes de almoço, para procrastinar como tanto gosto: a escrever.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

sortudo

Naquele arrepio de madrugada
Sentes-te só, mesmo de mão dada.
De um corpo que não existe,
Mas que te despertou.

Num rasgar de luz
Fechas de novo os olhos
E sorris.
Ele diz-te "até já, encontramo-nos mais logo".

Sonhas com o seu regresso
Como mais nada desejasses.

Sonhas com a sua ida
Como mais nada te entristece-se.

Mas como mulher, tu segues.
Abres os olhos e a persiana.
Dizes "bom dia" sem vontade
E sorris, com um que não é teu.

Naquele arrepio de madrugada
Não vais sozinha,
Vais de mão dada
Com o sortudo que te acordou.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Seja apenas mais um dia

Entre o campo e o mar há sorrisos que parecem o de uma criança. Azul e rosa continuam a ser as cores que mais distinguem o menino da menina, mas afinal são ambos crianças que carregaram um dia o sonho de se vestir de branco e preto.
Apesar de hoje em dia já não ser tão usual seguir a tradição foi ainda com o véu que se protegeram do arroz e das pétalas de rosa. Num dia em que os dias contam sem contar surgiu o compromisso de um dia eterno.
Sem nomes apresento-os como o rosa e o azul. São eles crianças de dois dígitos de idade e de aliança no dedo anelar da mão esquerda. Da direita para a esquerda surge o momento sério do assumir um compromisso, daqueles que as crianças não gostam, mas que melhor sabem levar até ao fim.
Ninguém melhor do que elas para guardar um segredo, sem hipocrisias ou tentativas de fazer-se melhor do que o outro. São quem mais se cinge à importância de se saber ser fiel, de honrar compromissos e de proteger quem quer que seja até ao fim.
"Se magoaste a minha amiga, magoaste-me a mim" é a frase que mais dizem numa discussão que em nada lhes remete. Mas se entre o marido e a mulher não se mete a colher, ao longo dos tempos somos educados (ou supostamente ensinados) a saber distinguir o bem do mal, o momento em que devemos falar daquele que respondemos com o silêncio.
Ausência de ruído foi o que nunca aconteceu, apenas em momentos de homenagem a quem está presente ou mesmo para aqueles que o céu era "tão longe".
Espírito jovem e de plena felicidade é o que se vive nestes dias de festa. Entre mensagens, prato de peixe, recordações, prato de carne, um passo de dança e a sobremesa reforçam-se laços entre conhecidos e desconhecidos. Com quem não se conhece fica o gosto de partilhar e de testemunhar o momento do rosa e do azul. Com quem se conhece bem fica, por vezes, a chave e o boquê. (Mas essa história de duas crianças fica para mais tarde contar)
Hoje, dia da criança, reflete-se sobre a importância que têm os seus direitos e neste caso o direito à "proteção especial e a todas as facilidades e oportunidades para se desenvolver plenamente, com liberdade e dignidade".
Seja qual a idade o "prometo proteger-te como tal" é sinónimo de uma relação seja ela de amizade ou que a essa amizade lhe seja acrescentada amor. Não será te todo que aquela criança sobre a qual tantas histórias escrevo e quero escrever diz que "felicidade é ser criança com a consciência de o ser".


Saberão bem aqueles que já o afirmaram
A vontade de que seja apenas mais um dia.
Afinal o coração bate
Por quem os dias contam sem contar.

Todos somos crianças até que os próprios o afirmam em contrário. Os direitos das crianças, todos eles, existem nos direitos da mulher e do homem, afinal o sonho de um dia andar num carro amarelo perdura e não importa a idade.