domingo, 12 de agosto de 2018

Um sonho de cada vez!

Hoje aprendi um novo conceito de felicidade: o bem-estar fruto da satisfação que temos connosco próprios. Porventura, este conceito nada tem haver com a materialidade, com a posse ou o poder. Tudo se relaciona com a dimensão em que nós jovens hoje vivemos: o tempo do sonho.

Sonhamos “mesmo sem dormir, mesmo sem ser noite” e transformamos essa direção no nosso caminho. Tornamo-nos gestores do nosso próprio destino e aprendemos com as experiências que o futuro nos oferece, que o presente nos inquieta e o passado nos recorda.

Esta semana foi mais uma de trabalho naquela que tem sido a minha experiência verão. Uma start-up que promove o conceito de economia circular e que procura também ela dar novos sonhos aos objetos. Afinal, quem constrói a narrativa de um material é a pessoa que o possui e isso pode adquirir uma longevidade maior do que aquela inicialmente pensada como a sua duração. No caso de um manual escolar este pode durar mais do que os iniciais 11 meses na minha prateleira. Pode ser passado de estante em estante, desde que seja cuidado e bem estimado pelos seus utilizadores.

Por ter escolhido ficar a minha decisão acabou por ter um custo de oportunidade consideravelmente maior do que a satisfação que o coração obteve. Os meus colegas que não me entendam mal quando desabafo genuinamente. Contudo, através dos números, que são a única métrica quantitativa de comparação, acabo por concluir que numa escola de 1 a 5 podia ter feito melhor. O número aqui era meramente um salário, um maior benefício para mais um gelado, mais uma visita a um museu ou um dia de férias.

Esta semana aprendi aquilo que ouvi desde o início do estágio: o salário aqui será o mesmo, será o menor fruto daquela que é a vossa jornada aqui. E assim foi. Nesta que foi uma semana desafiante, uma semana de reflexão e regresso à escrita questiono quantas vezes, nós jovens, prestes ou desejosos de entrar no mercado de trabalho, não confundimos necessidade com ambição? Quantas vezes pensamos que um número é mais importante do uma experiência?

Passamos os nossos jovens dias a pensar como ganhar dinheiro? Como podemos ir viajar e gastar o mínimo possível? Contudo, quantas vezes comparamos o nosso bem-estar numa aventura de verão com o de uma experiência de estágio? A mim que tenho tentado correr rápido, esta semana, respondo simplesmente que mais vale viver uma semana de amizade, força e fé do que receber mais uns “trocos” na carteira.

Tenhamos calma e sejamos fortes. Fortes na fé, na ambição e no esforço! Um dia de cada vez, uma aventura de cada vez e um sonho de cada vez!


segunda-feira, 18 de junho de 2018

Abram os olhos... "nós (continuamos) numa corda"

Inquietações e interrogações. Problemas e soluções. Pensamentos e atitudes.
Nada mais valorizo na arte se não a sua capacidade de agitar o meu interior. "Nós numa corda", um texto de Miguel Castro Caldas, foi a peça de teatro encenada por João Paiva que me fez repensar sobre o modo como as várias "personagens" de uma escola são responsáveis pelo seu exímio funcionamento.

Todos os que por nós, alunos, são responsáveis, nada mais nos pedem senão que tentemos cumprir o mínimo possível. Dos pais aos professores, dos explicadores às auxiliares da ação educativa, dos alunos aos alunos, todos fazemos parte de um sistema de ensino que parece não ter saído do mesmo lugar ao longo dos últimos 10 anos.
Qual foi a diferença entre a tua aprendizagem e a da tua irmã mais nova? Qual foi a diferença entre o teu professor e o professor do teu irmão mais velho? Permancemos todos no silêncio de uma resposta que parece não surgir. Na ignorância permanecemos, no incumprimento e no desrespeito crescemos como alunos e tornamo-nos adultos de um amanhã que os mais velhos em nada parecem acreditar.

"Nós numa corda" foi a peça de teatro à qual tive o prazer e o privilégio de assistir no passado sábado no Teatrão, Oficina Municipal do Teatro da cidade de Coimbra. É com grande pena minha que a cidade não abraça mais as obras de arte que dali surgem. Discutivel, como é óbvio, mas pelo menos se debatessemos este assunto era sinal que estavamos a dar espaço ao teatro. Afinal, tal como todas as formas de arte e cultura, esta permite que os jovens aprendam a expressar-se, a saber lidar com diferentes personalidades e carácteres, mesmo que se fale dos professores.

Foi no decorrer desta peça de teatro, apresentada por um grupo de 11 jovens entre os 10 e os 15 anos que me inquietei. Foi durante esta peça que me senti desrespeitada como aluna, que me senti triste como filha, revoltada como cidadã adulta que sou e cidadã exemplar que quero ser. Gostava mesmo muito que "Nós por uma corda" chegasse mais longe e fosse mostrada a todos os que integram aquele que é a escola em Portugal! Sim, porque para que alguns adultos integrem o mercado de trabalho e que este seja continuamente alimentado, existem outros que têm de continuar na escola. A eles, mesmo que muitas vezes indiferentes e cabiz baixo, devemos o nosso respeito e o nosso valor.

Quanto ao nível do ensino, esse é o dever que cabe aos nossos governantes. Abram os olhos! Abram os olhos aos nossos diretores e questionem-se porque tantos jovens copiam, porque tantos jovens saem da faculdade sem qualquer hábito de estudo ou motivação para agir, porque tantos jovens continuam a olhar o professor como um inimigo! Abram os olhos porque em vós depositamos total confiança para nos formarmos e sermos capazes de gerir um mundo que, um dia, também queremos entregar.

E vós pais? Abram também os olhos porque afinal há mais de 10 anos eram vocês que ali estavam. Eram vocês que sentiam que a educação vinha, primeiro que tudo, da vossa casa, do vosso lar.


Fotografia: Raquel Bidarra

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Esperar-me!

No limite dos dias encontramos ao fim-de-semana. Tempo em que a palavra encontro se repete. Torna-se num reencontro. Dois corações que ansiosamente aguardam o bater do seu companheiro, daquele que não fez a viagem, mas que o espera no estacionamento mais próximo da estação.

No comboio costumo escrever textos. Pequenas histórias que procuram ligar o que aprendi durante a semana nas aulas de economia ou gestão com o meu lado mais romântico, mais quente e sonhador. Aquele lado que ingenuamente acredita que um dia também eu escreverei um livro, darei autografias e dedicarei frases soltas a corações que também batem ou um dia bateram tão rápido como o meu.

Todas as sextas-feiras, em que o comboio me traz de volta a casa, tiro a marcação, rezo baixinho na fila para que o alfa-pendular não esteja esgotado e continuo a rezar para que na estação não escute uma voz calma e feminina exclamando “pedimos desculpa pelo incómodo causado”.

Chegou atrasado, mas já me posso sentar e acreditar que ninguém vai olhar para o identificador da minha mala de viagens com o nome da universidade onde estudo e acreditar que carrego pesados apelidos ou leves cartões. Caso tenham curiosidade trago apenas roupa interior usada, camisolas que não vou mais repetir, antes de serem lavadas, face as sensações olfáticas que podem vir a transmitir aos que me rodeiam, as tolhas de banho ou os lençóis da minha cama individual conforme o fim-de-semana em que viajo. Normalmente troco tudo de quinze em quinze dias.

Uma hora de viagem já passou. Acabei por adormecer com o cansaço de tentar trabalhar no computador. Apanhei um lugar de costas. De certa maneira enjoo da viagem, da conversa do senhor ao fundo do corredor que tem sempre a sua secretária a ligar-lhe ou da senhora que não foi capaz de aguardar o fim da sua solitária viagem de comboio para contar todos os pormenores das suas idas ao supermercado.

Paramos agora em Pombal. A seguir passamos Alfarelos e a já saio na próxima paragem. Costumo ter o truque de estar atenta à paisagem e assim que vejo a Escola Superior Agrária de Coimbra levanto-me. Aparentemente calma tento controlar todas as borboletas que têm vivido no meu estomago (ou intestino) ao longo destes quase quatro anos de boleias.

“Próxima paragem: Coimbra-B!” Desta vez uma voz rouca masculina. Desço o comboio, sempre com o cuidado para não deixar cair o telemóvel no buraquinho que separa os degraus da plataforma e faço a chamada. Estou de volta. Já regressei! Esperaste-me?

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

(Ainda) não me encantas!

Esta noite, no sossego de uma casa onde moramos quatro, onde partilhamos a cozinha e a sala, onde com os nossos vizinhos partilhamos a estrutura de um edfício antigo, que tem dias em que parece estar vazio, hoje, sou mesmo eu quem se sente envolvida por essa inexistência de som.
De manhã a porta bate. Ouve-se o barulho das escandas numa subida pesada e cansada, quase tão barulhenta que mesmo que não soubessemos medir o tempo, saberíamos que era o passo de quem regressa, ou numa descida rápida e sem qualquer cuidado no bater da porta da saída. Bem, pelo menos, todos cumprimos o que nos pedem "por favor mantenha a porta fechada!"
PUM! Está mesmo bem fechada. Nem o carteiro, que todos os dias por aqui passa e ao qual, durante esta semana, todos os dias tenho aberto a porta, parece ter cuidado no segurar gentil da porta de saída de mais um prédio.
"Sim?"
"É o carteiro!"
"Ah! Claro!"
Mais uma fatura da luz para a vizinha da frente ou do gás para a senhora do terceiro andar que todas as manhãs recebe o seu neto ainda muito pequenino, que apesar de choramingão e já com saudades da mamã, passa o dia a brincar com os avós.
No tempo deles o carteiro entregava cartas de amor. O carteiro entregava letras. Agora, tudo o que parecemos encontrar na caixa do correio são números onde gostavas de andar com a vírgula mais uma casa para a direita.

Às vezes, o senhor carteiro, ainda entrega postais, alguns até na minha porta quando o meu trevo de quatro folhas decide dar mais uma voltinha pelo mundo.
Ai tão bom que era! Poder agora ir dar uma volta pelo mundo, mas a capital não me deixa (ainda).

Agitada, inquieta e cheia de trabalho é assim que se sente a entrada e saída do metro. Os autocarros, neste tempo chuvoso e frio, vão cheios entre todas as paragens. À chegada ao Hospital de Santa Maria, última paragem do circuito que apanho todos os dias, vão novos e velhos, estudantes e profissionais em atividade desde a hora mais madrugadora, à mais longínqua na noite. Crianças vão poucas para aquela zona e ainda bem. Deixemos, por agora, que elas fiquem com as preocupações da "Maria que teve Satisfaz menos no teste de História e Geografia de Portugal" ou do facto de "este fim-de-semana ter uma festa de aniversário no honoratos!".

Nós estudantes, que aqui em Lisboa, pouco se identificam com a saudade do traje negro, vivemos no desejo que o dia 21 de dezembro chegue finalmente. Pelos menos os que estudam na mesma universidade que eu, certamente.
Depois de um semestre exaustivo, em que pouco ou nada conheci de Lisboa, acredito que, pelo menos, me tornarei numa profissional persuasiva e resiliente.
Obrigada por isso Lisboa! Obrigada por me tirares do meu conforto no conhecimento profissional e até pessoal. (Prometo que vou aprender a fazer sopa sozinha, mas, por agora, vou ainda carregar aos domingos no alfa os miminhos da mamã).

Esta cidade, que muitos engana, enche-nos de trabalho. A todos os que ao domingo chegam no intercidades e do alfa das dez da noite, aos que cá tiveram de passar o fim de semana e aos que só desejam que chegue o natal para que finalmente possam receber e retribuir os abraços bem apertados da mãe e do amigo colorido que há alguns meses carecem de encontrar.
Esta cidade, onde tudo corre e onde tudo procura chegar a horas somos muitos os que acompanham essa velocidade sem saber bem o porquê. Porque corremos? Porque queremos chegar primeiro ao lugar sentado? Porque não podemos esperar pelo próximo quando já sabemos que saímos de casa com mais do que tempo de antecedência?
PUM! Agora fui eu que fechei a porta. Está na hora de mais um exame. Hoje corro porque não posso falhar! Não posso falhar na hora, nem nos exercícios, nem no agradecimento aos meus pais pelo privilégio de estudar fora de casa. Baterão, todos os meus vizinhos, com a porta de entrada, porque também não podem falhar?
"Não tem problema, pode entrar, senhor carteiro!"
"Obrigada! Prometo que hoje também não deixo bater a porta!"
A ti Lisboa? Agradeço-te também por este pum pum, por este corre corre que me enche o coração de recompensas e de exercícios de finanças.
Hoje agradeço-te a ti. A ti cidade que (ainda) naõ me encanta.