quinta-feira, 4 de junho de 2015

Não vejo a hora

Quando acordo de manhã das coisas que mais me custa é saber que daqui a uma hora tenho de estar pronta para apanhar o autocarro, sempre a mesma rotina, mas nunca ele chega à mesma hora. 

As pessoas que ele traz, essas sim, foram-se tornando caras conhecidas paras as quais um sorriso transmite os bons dias. Ao fim de algum tempo conseguimos descobrir um pouco das suas histórias, parece que o olhar atento e observador de um jornalista tem o seu sentido existencial. 

Assim que entro é muito fácil perceber se o motorista acordou com os pés de fora ou se fui eu que acordei acordei. 

Os contos que se ouvem são sempre diferentes: sabe tão bem viajar com crianças, pelo menos há sempre uma novidade do que a professora ontem lhe ensinou ou do novo episódio que deu da Violetta. Terá ela um novo amor? Ou, será que ela já fez as pazes com as suas amigas?

Ao contrário das crianças que espontaneamente vão contando as suas brincadeiras a todos aqueles que viajem no autocarro, os mais jovens passeiam as suas pastas. O orgulho de mostrar a capa e batina, mas o fácil desistir de uma gravata bem composta, de uma batina vestida ou de umas meias sem um único foguetão pronto a descolar. Em dias mais frios erguem as suas sweats de curso e sem ninguém saber se têm as cadeiras feitas ou não, lá estão eles, no autocarro, a bocejar, prontos para mais uma aula que tem presença obrigatória. As frases bonitas de Coimbra, da saudade e do correr do rio Mondego tornam-se parte do dia a dia, tornam-se cliché e deixam de lado o eterno espírito poeta do estudante que não verga em deixar a sua marca nas mesas da faculdade.
Os mais velhos, que tanto têm para nos contar, permanecem no silêncio há espera de alguém que lhes pergunte "Como andas?" para poderem começar com o "Vai-se andado. No outro dia..." era apenas o que eles mais queriam, alguém que os ouvisse.

As aulas terminaram e a época de estudo prolongada começou. A chegada do verão já não representa os 3 meses de preguiça no sofá prontos a fazer uma maratona de episódios de "qualquer série que agora passe na FOXLife". 

Não terminaram as viagens nos autocarros, mas os horários não serão os mesmo, as pessoas que nele andam mudam de rotinas ou mantêm as mesmas de sempre quem sabe, agora sou fui eu quem mudou a minha.

Não veja a hora de entrar no 33 e saber qual foi o novo texto que a Carolina leu em voz alta para a professora.


Não vejo a hora de entrar no 33 e descobrir quem sãos os novos caloiros que escondem o sorriso envergonhado e o brilho nos olhos reflexo da ansiedade.


Não vejo a hora de entrar no 33 e saber como está o neto da Sra. Filomena, que agora já deve ter uma nova pista de carros e com comandos sem fios para ele não tropeçar.


Mas, agora, não vejo a hora de quebrar a rotina e deixar o 33 ir sozinho, porque eu hoje fico a dormir (só) mais um bocadinho.





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